A vista privilegiada
do pôr do sol e de parte do Centro de
Porto Alegre já
chamava atenção, mas, até poucos meses
atrás, atraía
principalmente moradores da Zona Sul.
A revitalização da
orla do Guaíba no entorno da Usina
do Gasômetro, porém,
causou um efeito indireto:
levou muitas pessoas
a fugirem da aglomeração e buscarem
paz nos arredores da
Fundação Iberê Camargo.
A região virou point
especialmente para quem anda de bicicleta,
pois o local conta
com ciclovia.
No domingo no qual a
reportagem do Jornal do Comércio
esteve no local, quanto mais o horário
do pôr do sol se
aproximava, mais cheio ficava o
ambiente, mesmo que a
lotação não se comparasse com a do
Gasômetro.
Os espectadores se espalhavam pelo lado
da rua do
próprio museu e do outro lado, rente ao
Guaíba, onde há a ciclovia,
uma mureta, parte com grama e uma
prainha mais para baixo.
A grande maioria do público era formada
por casais. Também havia
grupos de amigos sentados em cangas,
tomando chimarrão,
e pessoas sozinhas que chegaram ao
ponto andando de bicicleta.
Aliás, bicicleta ali não falta – desde
as alugadas por serviços como
BikePoa e Loop Bike Sharing, até as
próprias.
Os amigos João Felipe Brum e Cristiane
Medeiros, de 31 anos,
estavam sentados na mureta que separa a
calçada e o Guaíba,
em frente ao Iberê, tomando um
chimarrão. Brum disse que não
costuma ir ao local, apenas quando
convidado pela ex-colega de
faculdade, moradora da região. Já
Cristiane é habitué. “Como eu
estava de bicicleta, resolvemos vir
aqui, que é mais tranquilo”,
explica. Além da vista bonita, ela
gosta da região porque não possui
prédios no seu entorno, o que torna o
entardecer mais longo.
O colombiano Camilo Peña, de 26 anos,
está há dois anos em
Porto Alegre, mas já escolheu a orla do
Iberê como seu lugar preferido
para assistir ao pôr do sol. Morador do
bairro Jardim Botânico,
o mestrando em Medicina Veterinária não
se importa com a distância
pega sua bicicleta e mira na Zona Sul,
seja acompanhado de amigos
ou sozinho, para aproveitar o
entardecer. “Pedalei pela beira do Guaíba
desde a minha casa, mas o entorno do
Gasômetro estava muito cheio.
Então, vim curtir o pôr do sol aqui”,
conta. Desde sua chegada ao Brasil,
Peña já percebeu melhorias na
infraestrutura. “Antes, era só mato por aqui,
então não dava vontade de vir.”
A existência de ciclovia também
facilita a ida das pessoas ao local.
A via exclusiva para bicicletas foi
implantada naquele trecho em
junho de 2016, por contrapartida da
construtora Maiojama. Depois,
também foi construída uma calçada.
Antes, era comum que ciclistas
dessem meia-volta quando chegavam à
região, que só tinha chão de terra
(e muito barro em dias de chuva) para
passar com a bicicleta.
“Está bem melhor, já dá para usar o
lugar”, avalia o mestrando.
Mesmo com ciclovia no trecho, a falta
de uma via exclusiva que
vá da Região Central da orla até o
Iberê de forma ininterrupta causa
problemas aos ciclistas. A pedagoga
Josiane Godinho, de 36 anos,
por exemplo, mora no Centro de Porto
Alegre e foi de bicicleta até o museu.
No percurso, quase foi atropelada. “Fui
atravessar uma rua, a motorista
deu sinal de que ia atravessar também e
não atravessou. Nisso, eu quase
fui atropelada. Foi um susto”, comenta.
A falta de uma ligação entre a
ciclovia das avenidas Icaraí/Chuí com a
existente na Diário de Notícias
também coloca os ciclistas em risco
quando se dirigem de uma para a outra.
Apesar do medo de sofrer algum
acidente, Josiane prefere ir à região
para passar o fim de tarde. “Aqui tem
menos gente do que na orla, então
posso ficar mais tranquila”. Além
daquele ponto, outro lugar onde a
pedagoga costuma curtir o pôr do sol é
ainda mais para a Zona Sul,
na Vila Assunção ou no bairro Ipanema.
Josiane gostou da revitalização causada
pela implantação de calçada
e ciclovia no trecho do Iberê. Porém,
tem medo que o investimento
na área signifique a construção de empreendimentos
na orla que
dificultem a circulação da população
como pela região. “Eu não sei o que
vão fazer ali (no Parque do Pontal),
mas me amedronta que empresas
tenham comprado o terreno e nós não
possamos usá-lo mais”, avalia.
O Parque do Pontal é contrapartida da
construtora Melnick Even para
um empreendimento imobiliário no local.
A área foi inaugurada em julho
e fica entre o Iberê e o
BarraShoppingSul, onde antes ficava o Estaleiro Só.
O parque, que quando pronto terá 10 mil
metros quadrados, já possui
alguns caminhos internos. Um deles leva
à prainha do Iberê, antes
de difícil acesso, que também foi
regularizada e limpa. Os prédios a
serem construídos ao lado do parque, no
sentido Centro-bairro,
abrigarão um shopping, um hotel, um
centro de eventos, uma torre
comercial e um serviço de saúde.
(Isabella Sander | Jornal do Comércio)
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